Nem sempre a alma volta para casa

Meia dúzia de passos até a varanda… com uma xícara de chá em mãos e um bom punhado de silêncio na pele… embriagada por esse sentir que não se orienta. O olhar esbarra em um sem-fim de coisas e não gruda-fica em nada. Tudo abstrato a liquefazer-se… quadros, prateleiras, o velho relógio verde, que insiste em dizer as horas — em pares. 

Sinto a textura das coisas na ponta dos dedos… refaço os passos, contando-os: da varanda a cozinha. Do quarto para o banheiro.  A vida e suas muitas formas variáveis…

Voltei há pouco! Parte de mim — like always — ficou pelo caminho… Ainda está por lá a atravessar a Corrientes. A entrar e sair de teatros-livrarias-e-cafés. A descobrir cenários, que não estavam lá… no ano passado porque tudo é sempre novo-e-velho a minha passagem. Eu gosto imenso de deixar um pouco para depois… Não-beber de uma só vez todos os lugares. Prefiro tragar as geografias, sorvendo-as com calma para que no dia seguinte eu experimente os aromas que ficam.

Ainda estou sentada no meio da tarde… naquele jardim dos fundos com suas mesas coloridas e o verde a crescer pelas paredes… A degustar um doce chá de maçã enquanto “abano” o calor… e desejo o que existe de ameno no outono.

Ainda estou a sentir os aromas de fim de tarde… a vida mais lenta, os diálogos em língua estrangeira e os sorrisos eternizados nas fotos instantâneas… enquanto risco e rabisco meia dúzia de palavras numa folha de papel e penso em alguém, na distância secreta de nós dois.

Ainda estou por lá… a  discutir com Borges e seu conservadorismo bobo.

3 respostas para ‘Nem sempre a alma volta para casa

  1. Mariana Gouveia

    Bebendo os venenos da manhã fria de garoa…Buscando Andrea Bocceli só para sentir o lado de dentro, que é o que me cabe agora.
    Tanta falta sentia de ler-te.

    bacio

Pronto para o diálogo? Eu estou (sempre)