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6 ON 6  | Espaços em branco…

Desde a infância que eu adoro espaços em branco… a folha primeira do caderno, o bloco de notas ou a tela do Word com o seu cursor a piscar possiblidades. Nunca soube usar a expressão “deu branco”. O vazio mental não é algo que acontece em mim… Vez ou outra, o olhar trava em alguma coisa e eu sei que não penso-existo-sinto, não vejo e tenho para mim que não respiro. Dura pouco. A neblina sai dos olhos e as cores voltam todas. Gosto imenso desses instantes… e se houvesse uma maneira, fotografaria-os todos.

Para esse setembro (septem) ao espiar o tema que surgiu ao pensar nas cores da primavera, escolhi o branco-céu para onde olho em busca de formas e, às vezes, me deparo com ausências, pequenas cartografias: a marca de uma respiração.

1 – Essa foto foi a primeira que fiz ao sair para fotografar “o ar” em busca de formas que escavam o vazio… Não foi algo programado-pensado. Olhei para o alto e chamou a minha atenção. Um ambiente de sombras no alto. Fiz o clique e comecei a pensar nos desenhos de espaço.

2 – Gosto de espiar o emaranhado de fios que saltam de poste em poste, formando caminhos que apenas o olhar percorre…

3 – Essa fotografia eu fiz no domingo de manhã, depois de sair da feira. Olhei para o alto e me deparei com os galhos nus. Apontei a câmera para o ar e pronto. Rápido. Apenas um clique. O resultado eu vi ao chegar a casa e passar a imagem para o computador. Foi como fotografar a moda antiga, usando um daqueles filmes de 24 poses — ASA 400 em que era preciso aguardar pela releveção para ver o resultado.

4 – No domingo pela manhã, mesma rua… esquina seguinte, reparei nessa árvore que solta suas cascas. São muitas camadas soltas. Parece uma feriada aberta que nunca irá cicatrizar, mas só precisa mudar a estação…

5 – O que eu gosto dessa fotografia é a realidade velada e por trás dessa outra realidade, ainda há outra e mais outra. Tudo vai se acumulando. Um lugar de ausência como lugar da alma.

6 – Gosto imenso das impressões espectrais, mudar, nebulosas. Há um mundo particular para eu espionar e mapear através das órbitas e do infinito particular que eu alcanço por um segundo ou dois. O tempo de um clique. O obturador abre e fecha. Nada é absoluto, como um quadro de Malevich. Ao olhar para esse céu, fotografado quando dei pela mudança da temperatura e a chegada dos ventos, me lembrei que na infância eu dizia que o vento sul pintava o céu com sua fumaça…

Mariana GouveiaObdulio Nuñes OrtegaSuzana Martins

7 respostas para ‘6 ON 6  | Espaços em branco…

  1. dulcedelgado

    Gostei imenso deste texto porque desde sempre que me fascinam as possibilidade dos espaços em branco. Porque podem conter tudo e nada, seja a folha em branco, uma parede vazia ou esse “branco céu” que tudo guarda e esconde.
    Foi uma boa leitura matinal de um dia pronto a ser “vivido, escrito e preenchido”!

  2. Lua Nova

    Uau! As fotos ficaram lindissimas. Queria eu olhar para o alto e enxergar esse branco alma que você mencionou. E que frase incrível essa da sua infância. Acho que foi o seu melhor 6 on 6
    Adorei

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