* Diferente da maçã envenenada… a dor incurável da inveja mata a prazo

* Lua Souza (estratosférica)

Acordei e fui recolher as coisas de ontem. Eu sou o tipo de pessoa que se espalha: livros, envelopes, folhas-avulsas, livros, xícaras. É a minha trilha de migalhas. E, às vezes, ao recolher… acontece de encontrar algo que desperta algo em meu corpo-matéria e preciso dedicar uma hora inteira (talvez mais).

O que atiçou laberadas no meu íntimo na manhã-dourada-de-sol… foi o livro de Lua Souza — que tive o prazer de confeccionar. Li alguns versos… confesso que penso na voz dela ao ouvir. Foi assim desde o primeiro contato porque a poesia escrita por ela, não adormece nas páginas. Mancha o papel e pede por voz. É para ser lida em voz alta, com força, como naqueles eventos que se espalham pelas periferias. Uma figura humana-reta vai ao microfone e “canta” seu verso.

Eu gosto imenso dessa poesia que é grito… pele-força. É a Mulher a dizer-se, rasgar-se. Tanto tempo em silêncio, ouvindo o que não é, não pode. E, de repente, elas emergem (aos montes) e por toda a parte num uníssomo delicioso. É bom saber que as Mulheres ganharam páginas e suas palavras — tão avolumadas — alcançam olhares. Sempre fomos as leitoras dos homens. Fomos nós a dar a eles a chancela de autores. Propus há algum tempo que mudássemos o lugar das coisas. Eu me lembro que a idéia causou alvoroço na mesa em que estava. Eu lia minhas autoras favoritas e enaltecia Emily, a primeira. Provocou incômodo. Ouvi um homem-acadêmico dizer “ela não respeitou as métricas” e eu apenas sorri. Nem sempre estou disposta a discursar-criticar-questionar. O meu pensamento voa e penso na lista de mulheres-lidas. As que eu mais admirei e pensei: eu queria ter escrito isso. Lembro-me de um poema de Pizarnik que roubou a minha paz durante uma viagem de trem pela Europa. Sylvia Plath foi outra a  me atingir feito um raio.

Curioso que essas Mulheres foram intituladas poetas porque na opinião de certos senhores e seus diplomas de estimação: escreviam iguais a eles. Eu ri horrores, em sala de aula, quando o professor fez tal consideração a Susan Sontag… Que hoje sabemos foi a autora do livro de seu marido, um especialista em si mesmo; mas que é ovacionado pelas Academias do mundo, que se cala diante do feito de Sontag, que conhecia mais Freud que o aclamado marido.

Mas eu confesso que há dias em que o cansaço se espalha por meus músculos e nervos… E tudo que eu quero-desejo é um bom verso no qual me acomodar e me esquecer dessas vozes invejosas que replicam suas falácias que ecoam em uns e outros.

Nesse novembro [entre outras coisas] vamos de #blogvember…
Aventuram-se em linhas diárias: Mariana GouveiaObdulio Nuñes Ortega,
Suzana Martins e Roseli Pedroso

6 respostas para ‘* Diferente da maçã envenenada… a dor incurável da inveja mata a prazo

  1. Rozana Gastaldi Cominal

    Maravilhosas vozes que nos libertam da opressão, das algemas impostas… em busca do voo pleno, mulheres denunciam e anunciam uma nova estética, saem da invivisibilidade, ocupam espaços inimagináveis. VIVA!

Pronto para o diálogo? Eu estou (sempre)